quinta-feira, 16 de julho de 2009

O ufanismo do Athletic de Bilbao

Imaginem vocês se o Grêmio só aceitasse jogadores gaúchos? Seria uma "alemãzada" desenfreada tomando chimarrão. Estou apegando-me a este exemplo porque o estado do Rio Grande do Sul é o mais "rebelde", "independente" do Brasil, prova disso foi a Revolução Farroupilha e o Grêmio tem lá suas raízes castelhanas, bem particulares. Enfim, ainda bem que isso não existe por aqui, mas lá na Espanha...

Fundado em Bilbao, maior cidade da região separatista auto-nominada País Basco, o Athletic de Bilbao, é basco até no nome. O que na língua espanhola seria "Atlético"; em Bilbao, em proteção à grafia local, adotou-se "Athletic". Porém, em 1941, sob a ditadura do general Franciso Franco, o qual promulgou uma lei proibindo qualquer língua que não fosse o espanhol, o time alvirrubro passou a ser Atlético e o nomr original só voltaria em 1973. Além disso, como já introduzimos, a equipe desde sua fundação, em 1898, permite apenas jogadores de ascendência basca (País Basco, Navarra ou Iparralde). Vale lembrar que tal regra não serve quando o assunto é treinadores.

Mesmo adotando esse sistema arcaico, Los Leones já conquistaram a Liga Espanhola em oito oportunidades e a Copa do Rei 24 vezes (a última em 84). Além disso, ao lado do Real Madrid e do Barcelona, são os únicos clubes que nunca caíram para a Segunda Divisão espanhola. Outra curiosidade se diz respeito ao fato de ser um dos dois clubes, o outro é o Real Madrid, sagrou-se campeão da Liga de forma invicta (31/32).

E o orgulho, o patriotismo basco não pára por aí. O Athletic até pouco tempo era uma exceção no mundo do futebol já que não apresentava patrocínio nas camisas, nem fornecedor de material esportivo, ou seja, era tudo "100% Athletic". Contudo, em julho do ano passado, uma acordo firmado com a empresa petrolífera Petronor, esta tradicional filosofia sofreu um ultimato. Durante a temporada 04/05, quando disputavam a Copa da Uefa, foi estampada nas camisas a marca do governo basco com a mensagem "Euskadi", o qual significa : "Pátria basca". A Umbro é a fabricante esportiva da equipe atualmente.

É louvável um clube abdicar da conjuntura capitalista, deixar de vender suas camisas pelo mundo inteiro, arquiterar jogadas de marketing e fazer de tudo para perpetuar uma ideologia. Para alguns isso não passa de utopia, perda de tempo, já para os milhares vestidos de vermelho e branco que se aglomeram em dias de jogos no Estádio San Mamés, isso é razão de viver, é um bem precioso, é a luta contra um inimigo bem vivo e invisível : a globalização e a subsequente desvalorização dos costumes. Se é hipocrisia ou um último suspiro desesperado e denunciador, isso depende da opinião de cada um.

Quando o assunto é futebol, é impressionante, mas sempre tem um brasileiro envolvido. E nesse caso não foi diferente. O goleiro Biurrun (foto) é o paulistano que jogou no Athletic no final da década de 80. Por ter em sua árvore genealógica um descendente basco, assim como o mexicano Javier Iturriaga Arrillaga, Biurrun pôde vestir a camisa da equipe basca.

Atualmente, o Athletic, que no máximo chegou á uma final da Copa da Uefa nas temporadas 76/77 sendo derrotado na ocasião pela Juventus, amarga uma longa fila de títulos. Ano passado o time perdeu a finalíssima da Copa do Rei para o Barcelona e continua sem conquistá-la desde 1984. Já o último caneco da Liga Espanhola foi levantado em 1985.

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