sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Entrevistas - Fernando Meligeni

Fugindo da predominância futebolística do blog, nossa terceira entrevista é com um renomado tenista nascido na Argentina, porém com coração verde-amarelo.

Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten foram os principais responsáveis pela entrada definitiva do tênis no Brasil, no fim da década de 90 e início dos anos 2000. Ambos, dispondo de escassas ajudas, venceram e mostraram ao mundo que brasileiro também tem vez com a raquete na mão.

Fininho, em quase 15 anos de carreira, conquistou inúmeros títulos, contudo foi sua raça, sua disposição em nenhum momento desistir que o notabilizou e o colocou na História do esporte nacional. Quando era juvenil, Meligeni chegou a ser o número 1 do mundo, e seu auge, já profissionalmente, foi atingido em 1999 quando chegou às semi-finais de Roland Garros e alcançou a 29ª posição no ranking da ATP. Além disso, ele é o tenista brasileiro a ir mais longe em uma Olímpiada - semi-finais em Atlanta, 96.

É por tudo isso e muito mais que nós, brasileiros, sentimos falta do velho e bom Fininho e seremos eternamente gratos a tudo que ele nos proporcionou.

Você sofreu algum tipo de preconceito por ter nascido na Argentina? (Meligeni nasceu em Buenos Aires, porém mudou-se para o Brasil aos 4 anos de idade. Tornou-se profissional em 1990, optando pela nacionalidade brasileira)

Não, nenhum. Fizeram muitas brincadeiras, mas nunca preconceito.

Por que a escolha pela naturalidade brasileira já que, além de ter nascido, você treinava na Argentina?

Eu fui pra lá por dois anos pra treinar, mas minha família continou aqui. Eu optei porque amava e amo o Brasil.

Sem sair de "fininho", qual seu time de coração no Brasil e na Argentina?

São Paulo e Boca Juniors.

No início de sua carreira, quando ainda era juvenil, você chegou a ser um dos melhores do mundo. Conte mais sobre essa fase.


Eu fui número 1 do mundo por 7 meses e terminei o ano como número 3. Ganhei o Orange Bowl, que era o campeonato mais importante da época. Pra mim foi um grnade prêmio e uma motivação pra entrar no profissional.

Você é o tenista brasileiro que chegou mais longe em uma Olímpiada. O que falta pro Brasil ser uma potência olímpica, equiparada aos EUA, China, Cuba e países da Europa?

Investimento, vontade política e seriedade. Ser uma potência não tem nada a ver com resultado e sim com estrutura.

Faltam investimentos em outros esportes? A cultura do futebol dificulta esse intercâmbio?


Falta, além de dinheiro, falta querer que outros esportes apareçam mais.

O ano de 99 foi mágico pra você. Semi-final de Roland Garros e 29ª colocação no ranking da ATP. Como foi atingir esse auge? Por que não conseguiu manter essa fase?

Foi o ponto alto da minha carreira. Consegui porque lutei muito e trabalhei forte. Não consegui depois me manter entre os 25, mas sempre estive dentro dos 70. É duro demais se manter lá em cima. É pra poucos.

Você e o Guga revolucionaram o tênis nacional mostrando que na "pátria de chuteiras", também tem espaço pra raquete. Como foi ser um dos protagonistas dessa febre, sobretudo nas gerações mais novas?

Foi e é muito legal. Tenho muito orgulho pelo que consegui e pelo que ajudei a divulgar o esporte.

O ouro no Pan de Santo Domingo fez com que os holofotes voltassem à você. Como foi se despedir do esporte com um vitória épica daquela?

Sem palavras. Melhor despedida que eu podia pedir na vida. Eu lutei a vida inteira por resultados e conquistas e no meu último jogo, pude mostrar a todos isso.

Como você classifica a torcida brasileira? Qual seria a sensação de disputar uma Olimpíada em casa, no Rio de Janeiro?

A torcida brasileira é a melhor do mundo. Sempre me identifiquei. A torcida quer garra e, logicamente, resultado também, mas, principalmente, quer ver o atleta se matar pela vitória. Eu adoraria ter a chance de disputar uma Olimpíada no Brasil, mas a gente não pode pedir tudo, né?

Você é considerado mais um exemplo de raça, determinação, superação do que de técnica - Vide seu extenso currículo de viradas. Até que ponto a raça consagra um atleta.

Raça sem resultado, não consagra. Resultado sem raça, consagra pouco.

Em seu blog, você fez um top o qual considerava o Federer como o melhor de todos os tempos. Qual é o diferencial do suíço?

Ele é completo. Tem um tênis sólido, é inteligente e tem o "algo a mais", que apenas os fenômenos têm.
E o Nadal? Quais as principais diferenças entre eles?

O espanhol tem mais coração, entrega e força.

Você usou critérios como títulos e semanas na liderança do ranking. Quais as razões de Guga não estar na sua lista?

Não queria fazer uma patriotada. Coloquei quem eu achava e não quem eu gostava. Se fosse assim, colocava só os amigos. O Guga foi gênio, mas tiveram outros que foram mais que ele.

Depois das revelações do Agassi - o ex-tenista confessou em sua biografia que usou doping algumas vezes durante a carreira -, ele continua um de seus ídolos ou caiu um pouco no seu conceito?

Fiquei triste com tudo isso. Ainda não consegui engolir essa história. Mas não posso deixar de gostar dele. Erros todos cometem, mas que caiu no conceito, caiu.

Quantos títulos você conquistou ao lado de Guga em duplas? Como é ser companheiro dele dentro da quadra?

Ganhamos 4 se não me engano. É muito bom ser parceiro dele. Além do seu tênis que é incrível, ele tem um astral parecido com o meu. Por isso nos dávamos tão bem.

Se não fosse a contusão dele, até onde você acha que ele chegaria?

Ele seria melhor que número 1. Seria o zero, se existisse.

Thomaz Belluci é, atualmente, o maior nome do tênis nacional - está entre os 40 do mundo. Você aposta no talento dele?

Tem muita gente legal vindo e é preciso ter cuidado com eles. O Thomaz não é mais promessa, é uma realidade e tem tudo pra continuar evoluindo e conseguir melhorar no ranking e ganhar muitos títulos.

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