segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Domingo "espetacular"

São 5 horas da manhã de um domingo de clássico, um garoto de 19 anos sente um molhado na testa e em seguida vê a porta de seu quarto se fechando... às 10 horas, na Zona Leste de São Paulo, o garoto levanta e nota que o dia está nublado. Impaciente, ele arruma sua cama e vai até à cozinha almoçar antecipadamente para não perder tempo. Ao sair de casa, dá um beijo na mãe, um abraço nos irmãos, faz uma oração ao passar pela estatueta de São Jorge ( estrategicamente colocada perto da televisão ) e pega um ônibus circular até as proximidades do Estádio do Morumbi. Às 14 horas, encontra seu pai vestido com a camiseta do Corinthians usada em 1990, a número 10 de Neto. O pai recebe o filho com um sorriso estampado na cara e o abraça fortemente como se ele não tivesse passado em seu quarto às 5 da manhã para dar aquele beijo na testa antes de ir para a oficina.

Já dentro do estádio, pai e filho conversam sobre o ocorrido durante a semana: ingressos, cartas de dirigentes, o novo prata da casa, etc. Às 16 horas a bola rola, pai e filho vibram a cada passe, cada tirada de bola, cada drible. Sofrem ao ver o camisa 8 sendo expulso, comemoram o segundo amarelo de um certo jogador são paulino e amargam o gol de Borges.
Aflitos, se abraçam e rezam para São Jorge iluminar o time, guiar o Corinthians para o gol. Então, explodem ao ver a excelente assistência de Boquita ( o tal novo prata da casa ) e o gol para tirar a zica de André Santos. Contudo o mesmo foi expulso após tomar o questionável segundo amarelo.
O árbitro aponta o meio de campo e dá o apito final, São Paulo 1 x 1 Corinthians.
Pai e filho se abraçam e comemoram como uma vitória... Afinal, um empate contra o atual Hexa Brasileiro, na casa deles, com 10% da torcida, 1 homem a menos na maior parte do tempo e um árbitro um tanto quanto questionável é mérito.

Na saída do estádio ouvem um estouro, gritos de desespero ecoam nas escadarias já escuras do Morumbi, uns querem voltar, outros avançar. O filho protege o pai, que já tem uma certa idade, enquanto vê a torcida rolando arquibancada a baixo. Em seguida, outros três estouros... Mulheres choram, homens com tatuagens do famoso gavião juram a polícia de morte. Em meio à confusão, o garoto se perde de seu pai, grita por seu nome, corre de um lado para o outro durante 5 minutos até encontrá-lo no chão com uma fratura exposta. Pede por socorro e é atendido 25 minutos após a confusão se encerrar.

Às 20 horas e 30 minutos, chegam ao hospital por meio de uma ambulância. O pai ficará 1 mês sem poder ir à oficina trabalhar e o médico ainda não deu a notícia de que ele ficará manco para sempre. E agora, como um manco tocará a oficina que sustenta sua esposa e seus três filhos? O garoto estava cursando o extensivo, era muito elogiado pelos professores e tinha grandes chances de concretizar seu sonho, ser médico. Mal sabe ele que ele terá que largar os estudos para trabalhar na oficina e botar comida no prato da casa. Diretores irresponsáveis que enviam cartas irônicas para provocar a torcida, federação que não se apresenta e nada diz sobre nada, má organização da polícia militar, uma bomba que ninguém sabe de onde veio e muitos outros fatores banais impediram o garoto de sonhar.

E na TV? O que tem dito? Ah, lembrei... a Viradouro fechará o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro neste Carnaval.

PS: Personagens são fictícios, mas o acontecido no Morumbi neste último domingo é bem real.

Nenhum comentário: